24 de ago. de 2011

Romaria de Paulica

Mais um texto para apreciação sobre a realização dos Festejos de São Raimundo dos Mulundus publicado em 1977, pelo jornal Folha do Iguará da cidade de Vargem Grande.

Romaria da Paulica: o religioso e o profano fazem a festa

Benedito Coêlho – Chefe de Gabinete da SOLECIT

O maior evento religioso do Maranhão – o festejo de São Raimundo Nonato dos Mulundus reuniu em romaria ao povoado Paulica, no último dia 22 de agosto, abertura dos festejos em honra ao glorioso santo, aproximadamente 20 (vinte) mil pessoas vindas de várias regiões, inclusive de outros Estados. Eram vaqueiros, devotos e protegidos do santo; homens e mulheres simples e da sociedade; políticos e autoridades, que se juntaram em oração e festa de confraternização. Entre os romeiros não havia cor, raça, condição social, nem ricos, nem pobres o motivo que os unia era a fé em São Raimundo dos Mulundus. Uns oravam, cantavam; outros confraternizavam-se em barracas de pau e palha de babaçu. Filhos da terra, residentes fora do município, não perderam a oportunidade de retorna à terra natal para rever parentes e amigos, e, como nos velhos tempos, orar ao santo que desde menino aprenderam a reverenciar como milagroso. De tudo ali podia se ver como expressão de crença e do profano que faz o festejo. A mulher com pedra na cabeça, descalça e com longos vestidos brancos rendados, algumas ostentando o penteado com cabelos untados ao óleo de mamona; as crianças, umas em traje de São Francisco, outras vestidas de anjo, e a maioria trajada a rigor; mantos vermelho e branco, as cores de São Raimundo Nonato dos Mulundus; romeiros de joelhos em pleno sol do meio dia, com calor de mais de 40 (quarenta) graus, e muita poeira. Na porta da Igreja, apresentações folclóricas; enquanto no som central, no intervalo das brincadeiras, canta-se e reza-se ao glorioso santo. Na descontração da conversa da família e entre amigos, não faltava o assunto principal: as histórias dos milagres de São Raimundo Nonato dos Mulundus. Nas barracas de vendas, que se enfileira-se ao longo da BR, até debaixo da ponte do rio Paulica (que dá nome ao povoado), vendem-se da rede de fio às bebidas: cachaças diversas, catuaba, tiquira, conhaque de São João da Barra e, para engolir a poeira e matar o calor, cervejas geladas; para amenizar a ressaca, também tem garapa.

Por volta das 15:00 horas, muitos dormem, uns pelo cansaço outros por embriagues. O som central entoava cânticos e orações anuncia aos romeiros que é chegado o momento de voltar, pois São Sebastião, padroeiro de Vargem Grande, está aguardando na entrada da cidade, o amigo que hospeda em sua casa. Ouve-se uma forte salva de foguetes e gritos eufóricos de viva São Raimundo! É organizada a saída. O andor com a imagem de São Raimundo abre caminhos para o arrastão dos romeiros, que não se cansam de orar e cantar, (outros de brincar) mas na hora do viva São Raimundo, em perfeita harmonia desafinada todos gritam: Viva! E são salvas de foguetes, cânticos e orações. A romaria de volta está a caminho. Tudo é transmitido ao vivo pela Rádio Janaína, que oferece aos devotos que não puderam sair de casa acompanhando a procissão. Fiquei extasiado, ao presenciar aquela multidão incontrolável de crentes a pé, de cavalo (aproximadamente 1.000 vaqueiros), de bicicleta, de carro, inclusive os ambulantes que vendiam bugigangas e comidas. Juntam-se também à procissão, carros de mão e outros meios de transporte, cantando-se e orando-se ao glorioso São Raimundo Nonato dos MulunduTs, enquanto muitos continuavam pagando promessa por alguma graça recebida.

O encontro das imagens de São Sebastião e São Raimundo Nonato dos Mulundus é um momento singular da festa, emocionante. Os romeiros parecem perder o cansaço da longa caminhada e cantam e rezam mais forte, choram e agradecem como querendo ser ouvido por seu protetor. Os andores das duas imagens ficam lado a lado, e a procissão prossegue. A noite começa, acendem-se velas, e a idéia que se tem é de um céu bem estrelado. O foguetório não pára, os sinos da Matriz anunciam o encontro dos amigos São Sebastião e São Raimundo Nonato dos Mulundus. Toma-se a rua São Sebastião com destino à Praça do mesmo nome onde acontece a missa campal, e durante esse trecho da caminhada, as famílias recepcionam o retorno do santo com velas acessas, rezando o terço ou, em oração silenciosa, fazem o sinal da cruz. Chega-se à praça São Sebastião por volta das 19:00 horas, e aí acontece a maior salva de foguetes que já ouvi, enquanto no alto da torre da Matriz os sinos badalam. Encerra-se a romaria com a celebração da missa campal presidida pelo Pe. Laurino, co-celebrada por outros sacerdotes.

Os bares próximos ficam sem espaço para acolher tantos romeiros, e assim o festejo é iniciado. No lado profano do festejo, festas nos clubes da cidade, vendas diversas, leilões, passeio do rio da Manga, em Nina Rodrigues, e o gostoso banho no açude do Moizinho, regado a cerveja e muito som ao vivo. Que São Raimundo Nonato dos Mulundus proteja a cidade e os romeiros!

Publicado na Folha do Iguará – Ano I, Nº 1. Vargem Grande. Setembro, 1997. Página 2.


Imagem: publicada no jornal.

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